Fiquem-se com algumas palavras de Herberto Helder...
(...) Eram rápidas, fortes, espaçosas
as noites do poder. O alimento vinha
com o apuro do mel. O dom
desenvolvia em mim esses mesmos rostos
abertos a meio, com a lua
e o sol dentro e fora.
Lanho a lanho
cerrara-se a carne em seu tecido
redondo.
(...) Alimentava-me
dos rostos atirados pela rede dos nervos
negros e as veias
até à raiz cravado
da voz
--- o terrifico
aparelho da fome. Toda a obra
Dói.
A memória maneja a sua luz, os dedos,
a matéria
(...) os espelos fechados
de repente vivos como oceanos sob
os antebraços, as mãos
(...)
excertos de «O Corpo O Luxo A Obra»
HERBERTO HELDER