quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

GAIA


Creio que já referi anteriormente James Lovelock neste Blog, seguramente, porque é um dos meus autores científicos favoritos. Mas convém a recomendação de novo num tempo tão dificil que vai exigir de nós, muito brevemente, toda a unidade das pessoas de bem em torno deste conceito fundamental: GAIA, a mãe Terra.
A ecologia é um conceito recorrente que reflecte a imagem da unidade na criação. Nos tempos que vão correndo ouvimos falar muito de ecologia, tanto em termos de poluição, da extinção de várias espécies de vida selvagem, como da continuação da vida na Terra. A ecologia define todos os sistemas vivos como interdependentes. O funcionamento de um organismo depende do outro. Assim, a vida animal precisa de oxigénio e fornece anidrido carbónico, enquanto que a vida vegetal necessita de anidrido carbónico e liberta oxigénio.
A ecologia também defende a interligação dos vários sistemas de vida. Se se mudar um único elemento, todos os outros sofrerão o mesmo fim, desencadeando uma reacção em cadeia. Estamos a dar-nos conta, quase demasiado tarde, das implicações deste princípio ecológico fundamental. Por exemplo, matamos insectos de que não gostamos com sprays. Os produtos químicos infiltram-se na terra e envenenam a cadeia alimentar. Sem esses insectos, outros há que se desenvolvem para além do que natureza determinou, enquanto que certas aves se vêem privadas do seu alimento e morrem. Como há menos aves a disseminar as sementes noutras áreas da região, a polinização fica ameaçada e menos flores se reproduz. As colheitas são afectadas e os agricultores introduzem freneticamente mais e mais alterações ao solo. A qualidade deste é afectada e as árvores não medram. Como há menos árvores, mais casas ficam expostas ao sol e mais necessidade há de ar condicionado. Quando os aparelhos de ar condicionado deixam escapar fréon, este sobe à camada superior da atmosfera e destrói a camada de ozono. Diminuída a camada de ozono, mais radiações perniciosas do Sol atingem a Terra. E daí por diante.
O sistema de vida do planeta, em todas as suas partes interdependentes, funciona como um todo.
Pensar em termos ecológicos é ter gestos pessoais. Simples atitudes de amor com o Todo do qual fazemos parte.
Porque é bom que tenhamos consciência de uma coisa, se não acabarmos com a super-produção desnecessária com que estamos inundando o planeta, para apenas usufruir de um estúpido consumo desregrado dos nossos prazeres imediatos... a solução é sermos eliminados como um virús. A Mãe Terra não tolerará o abuso. Ela continuará como após a extinção dos dinossauros. O homem é apenas outra espécie.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Grafia do Poder: O Som


A simbologia do som é uma contenção de poder. A imagem que a contém em si mesma é a emissão do acontecimento. O acontecimento é um acto. Por isso se determina num convénio simbólico tratado por gestos não actuados: os símbolos... ou melhor, os actos quietos, ou "O não acto".
A alta magia nasce daí: da descrição arquitectónica do som e na sua reprodução em grafismos. Quem conseguir descodificar a designação simbólica, é garante da execução do Poder.
René de Tryon-Montalembert aborda a análise no livro 'Cabala e a tradição Judaica' e das suas "palavras de fogo". Seriam aquelas a que se refere o Antigo Testamento como as palavras de Deus - os símbolos que como palavras foram queimados na pedra - porque a voz de Deus não é audível senão por símbolos.
Mais tarde vim a encontrar no prof. Maxwell Maltz e a sua "Psicocibernética" um conceito absolutamente identico. Diriam os cinicos que todos os encontros intelectuais são preconcebidos. Mas, de cinicos e de cépticos está o inferno cheio, até porque são os únicos que nunca têm dúvidas.
Voltando ao som que resolve e decifra o símbolo.
Há uma história muito curiosa sobre um monge que cumpria voto de silêncio há tantos anos que, quando começou a falar, tudo o que dizia tornava-se realidade. Mesmo as coisas mais improváveis. Cada palavra dele tornava-se emissão de poder e as coisas simplesmente aconteciam.
Isso para convir que a psicocibernética de Maltz funciona num principio que é "l'image de soi". A imagem de si mesmo. Um simbolo deveras interessante porque funciona como a temática dos espelhos de Jorge Luis Borges, ou a Alice in Wonderland, do matemático Lewis Carroll.
Dizia Maltz que a designação da vontade subconscientemente dirigida conduziria à realização do facto. Ou melhor, o acto de fazer, é decretado pelo desejo não contaminado. Uma espécie de preambulo do Zen ideal. Tal como o coelho permanentemente atrasado do conto de Carroll - que não tinha mais nada para fazer a não ser não chegar atrazado.
Isto traz-nos ao SOM.
Maxwell Maltz acha que o poder é interior e conduz a edificar construções funcionais a partir de ideias. Ordens interiores que constroem exteriores. Emissões de sons não audíveis, neste caso. Tal como o atrazo contínuo e histérico do coelho de Carroll.
Diria Shakespeare, "Much ado about nothing". O ruído em excesso. Que além de consumir o "tempo" dissolve o poder por uso de palavras.
A palavra é em si mesmo o uso de poder. Toda a gente sabe isso de alguma forma. Como diria Roland Barthes, o símbolo é a palavra contida: A PALAVRA POTENCIAL. O poder antes da emissão. A assinatura de Deus.
Quando toda a gente anda pagando o caríssimo 'aparat' Suiço para resolver o enigma de Deus e saber se o BigBang foi um som ou a emissão de uma ordem cósmica, sem ovo nem galinha, as coisas resumem-se mais ou menos a 5 mil anos atrás e à inteligência dos japoneses e indianos.
O não entendimento da importância da emissão das palavras em conversas comuns - e por arrasto a emissão de ideias que são sonoras segundo muitos intelectuais - é um grande desgaste de energia.
Quem sabe do que falo sabe que vamos ter que cuidar desta última vaga de reencarnações. Mas o "shift" está próximo e nós todos estamos a ficar velhos. Eles têm que se cuidar a si próprios e.... passar.
No entretanto cuidem das palavras em cada pensamento. O desgaste do verdadeiro PODER não é útil a nenhum de nós. E pensem no som.... silenciosamente.

A escultura dos símbolos


A linguagem é uma legislação, e a língua é o seu código. Não nos apercebemos do poder que existe na língua porque nos esquecemos que qualquer língua é uma classificação e que qualquer classificação é opressora: ordo quer dizer simultaneamente repartição e cominação. Jakobson demonstrou que um idioma se define menos por aquilo que permite dizer do que por aquilo que o obriga a fazer.(...)
Na lingua a servidão e o poder confundem-se inelutavelmente. Se chamamos liberdade não apenas à faculdade de nos subtrairmos ao poder, mas também e sobretudo à faculdade de não subjugarmos ninguém, a liberdade de que falamos não poderá existir senão no exterior da linguagem. Infelizmente a linguagem humana não possui um exterior. Apemas se pode de lá sair a preço do impossível: pela singularidade mística, tal como Kirkegaard a descreve quando descreve o sacrifício de Abraão como um acto inaudito, vazio de qualquer palavra (...) contra a generalidade, a gregaridade, a moralidade da linguagem; ou ainda pelo amen Nietzschaeno, que é como que um abalo jubilatório infligido ao carácter servil da linguagem.(...)
A utopia, bem entendido, não é preservada do poder: a utopia da língua é recuperada como língua da utopia (...) Eis-nos perante a semiologia.
Primeiro que tudo é preciso repetir que as ciências (...) não são eternas: são valores que sobem e descem numa Bolsa, a Bolsa da História: bastaria a este respeito lembrar o destino valorativo da Teologia, discurso hoje em dia insuficiente e, todavia, outrora uma ciência soberana (...)
A semiologia seria, por consequência, o trabalho que recolhesse as impurezas da língua, aquilo que fosse recusado pela linguística, a corrupção imediata da linguagem: nada menos que os desejos,, os medos, os trejeitos, as intimidações, as tentativas, as ternuras, os protestos, as desculpas, as agressões, as melodias de que é feita a língua activa. (...)
(excertos de)"Lição", Roland Barthes

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

De volta aos símbolos


O Inverno normalmente conduz-nos à (re)leitura no cantinho da lareira, a ouvir a chuva lá fora, e música de Wagner - sobretudo as aberturas - Tanhauser é o meu perdilecto musical, depois de Rimsky-Korsakov (Scheherazade - the young prince and the young princess). Sempre fui um amante das grandes orquestrações musicais, algo apoteóticas, mas de cariz romântico, provavelmente porque a complexidade dos temas orquestrais fazem um duelo positivo com os sentimentos que nos despertam. Por exemplo, jamais teria compreendido do todo as matizes nostálgicas das filmagens ao fim da tarde de 'Morte em Veneza' do Visconti sem o Adagietto da sinfonia 5 de Mahler a enroupar o drama. Quem ouve o tema, vê a luz inesquecível de Visconti naquela praia de inenarrável tristeza. Ali, onde a vida se esvai em esquecimento súbtil, como um desmaio infinito.
As palavras são quase sempre insuficientes para explicar o que a música nos provoca. Tal como a filosofia é vadia na designação de Deus. Se a música é a conceptualização de símbolos que esculpem sentimentos, a filosofia tenta traduzir em palavras o que inadequadamente a racionalidade não soluciona. Montaigne, creio eu, dizia, que filosofar é aprender a morrer.
Isto para referir que descobri, cheio de pó, nas minhas estantes, "A Lição" de Roland Barthes. Foi uma redescoberta enternecedora. Suponho que a criatura foi posta fora da universidade quando deu esta palestra.
A ver, actualmente a nível universitário é uma das fontes mundiais mais respeitada e consentânea no que diz respeito a semiologia, ou semiótica, como quiserem - na explicação dos símbolos.
What brings together Mahler, e o adagietto # 5, Veneza, Visconti e os simbolos?
As grandes lonjuras são sempre construídas num imediato finito. O horizonte palpável, e não os grandes voos de águia, importam à definição de finitude. Tem que ser local, doméstico, palpável...para se constituir dramático. As construções épicas do tipo Wagneriano impõem condições não designativas, são intemporais e centradas em valores intrínsecos básicos, como o branco e o preto, o bem e o mal.
Enquanto que a elaboração sobre o humano, demasiadamente humano, como dizia Nietzsche, é nossa incapacidade de ser épicos. Somos apenas mortais. E, mais do que isso: falhamos.
É essa falência da consecução de objectivos que cria a nostalgia - porventura o Fado português nasceu aí. As praias desertas de mulheres vestidas de negro - como as mulheres de Atenas - bramindo contra as ondas que lhes roubaram os maridos e as esperanças.
Mas voltando à imagem de Visconti e à escolha do adagietto de Mahler. Roland Barthes escreveu um belissimo livro "L'Empire des Signes" onde demonstrava a execução da arquitectura nipónica e a relação com a expressão facial. Provavelmente as imagens mais relevantes do livros são 2 expressões (na versão francesa, pelo menos)... a que abre e fecha o livro. É quase indetectável o sorriso entre as duas imagens. Mas para nós humanos, e para os cães, é evidente que há uma mudança. É a disposição da alma que mudou. E nós entendemos.
As imagens que nos mostra das casas japonesas, mais ou menos "a máxima mistica", o que está encima é igual ao que está em baixo, é tão patente que, se voltarmos as fotos de patas-ao-ar, ficamos ainda mais confusos.
Nesse caso onde está o significado que se esconde na paisagem? Qual é o símbolo que designa o dramatismo? Como podemos percebê-lo indistinto - ainda assim receptível pela nossa percepção de animais condicionados?
Mas como se entretece imagens com música para determinar sentimentos espectáveis no ser humano. Música e imagem são duas linguagens diferentes.
Qualquer director de fotografia saberá certamente o que retirar ou incluir dentro do visionamento da objectiva para causar o efeito de percepção adequado. Mas, como pode a música sublinhar o contexto visível que prdouz a emoção?
Onde estão os símbolos? Qual é a ligação? Que linguagem é essa que nos escapa e que fala com a alma e não com o raciocínio.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OBAMA - Black Pearl


A maior parte de vocês não recorda o album dos Camel,"The Snow Goose". O tema reporta-nos para a amizade - baseado num texto de Paul Gallico, que nunca autorizou a banda Camel a utilizá-lo, aliás. Foi sempre referido como "based on". Eu acho que fez mal, porque se houve algum texto musical digno dos Camel é, sem qualquer dúvida, "The Snow Goose".
Eu, na época tocava num conjunto musical e tinhamos alguma sofreguidão pelos "denominados" rockers-sinfónicos... Jethro Tull, The Who, YES, C.S.N.&Y., Emerson, Lake & Palmer - e o inusitado rock espacial alemão de Klaus Schulze e os outros experimentalistas que se seguiram (Steve Roach, Brian Eno e mesmo Andreas Vollanweider e os Penguin Caffe Orchestra) que ninguém se lembra.
Mas o tema nessa altura pairava entre a musicalidade soft and gentle do 'ainda' acomodado aos ambientes românticos do shire britânico e o alucinado universo de Peter Gabriel e de Bridesheads por demais revisitados. O melting pot não era inadequado (e ainda não é) foi a mais excelente máquina de produção artística britânica, de onde saíram clássicos como James Ivory. Os USA haveria de se tentar recapturar intelectualmente desta onda que submergiu o mundo de inteligência com Andy Warhol e Gore Vidal, obviamente baldados aos seus sucessos de 15 minutos.
O paradigma americano que eu eventualmente mais objecto, é a tentativa de fazer MESMO da arte, técnica de produção, do qual eu discordo. Viu-se o que deu a produção artistica nos países comunistas. Foram excelentes na produção, as criaturas tornaram-se coisas, e a gente não sabe qual foi o objectivo do fenómeno, a não ser catando os seus desertos emocionais pessoais e vomitando glórias pátrias com bandeiras públicas a acenar de vodka. Um completo disparate intelectual.
Mas, voltando ao tema, o "Snow Goose" - O Ganso da Neve - e, é claro, a Barak Obama hoje entronizado como nosso Lord.
É claro que eu não vejo o Barak como um solitário artista vivendo num farol no meio de um pantano. A ideia, por parabólica, não deixa de excitar a minha curiosidade simbolista. Mas a história é absolutamente consentânea.
Vamos lá a ver. O que se retira do simbólico e da realidade comum?
Ele é o pássaro que consegue voltar a voar depois de Fritha lhe ter dado de novo o senso humano de confiança? Será o Rhayader o pássaro, a parábola ou o símbolo?
A questão é deveras importante aqui.
Muito embora eu goste de fazer jogos de palavras e ideias, o Barak Obama que hoje vai governar o mundo... quanto a mim claro... vejo-o como o tal farol, mesmo no meio dos marshes! Sobretudo porque não é daqueles faróis todos às riscas vermelhas para saltar à atenção! Aquele tem brilho próprio. Algo negro. Há pérolas assim.

(este texto é para ser lido ouvindo "The Snow Goose" dos CAMEL)

domingo, 18 de janeiro de 2009

"Recuerdos"


Was it summer when the river ran dry,

Or was it just another dam.

When the evil of a snowflake in June

Could still be a source of relief.

O how I love you, I once cried long ago,

But I was the one who decided to go.

To search beyond the final crest,

Though I'd heard it said just birds could dwell so high.



So I pretended to have wings for my arms

And took off in the air.

I flew to places which the clouds never see,

Too close to the deserts of sand,

Where a thousand mirages, the shepherds of lies

Forced me to land and take a disguise.

I would welcome a horse's kick to send me back

If I could find a horse not made of sand.



If this desert's all there'll ever be

Then tell me what becomes of me.

A fall of rain?

That must have been another of your dreams,

A dream of mad man moon.



Hey man,

I'm the sand man,

And boy have I news for you;

They're gonna throw you in gaol

And you know they can't fail

'Cos sand is thicker than blood.

But a prison in sand

Is a haven in hell,

For a gaol can give you a goal

And a goal can find you a role

On a muddy pitch in Newcastle,

Where it rains so much

You can't wait for a touch

Of sun and sand.



Within the valley of shadowless death

They pray for thunderclouds and rain,

But to the multitude who stand in the rain

Heaven is where the sun shines.

The grass will be greener till the stems turn to brown

And thoughts will fly higher till the earth brings them down.

Forever caught in desert lands one has to learn

To disbelieve the sea.



If this desert's all there'll ever be

Then tell me what becomes of me.

A fall of rain?

That must have been another of your dreams,

A dream of mad man moon.

(by GENESIS -
A trick of the tail)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

FEAR OF EMPTINESS



To the degree that we've disconnected from the essence of our spirit and the life force of the universe, we feel an emptiness inside us, a loneliness, a sense of lack. This is terribly frightening, so we create activities to keep us busy and thus avoid those feelings.
If we stopped all the frenetic activity, we would feel our essential emptiness and meaninglessness. Of course, that's exactly what we have to do. Ironically and paradoxically, when we move into the emptiness, we open to being able to reconnect with spirit and be filled again from our spiritual source.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

RECEITA DE FRANGO-NOVO-ANO


Tenho andado pensando o que escrever no meu Blog desde o início do ano - não é que isso seja importante! (quer dizer... é presumível que seja importante para a minha persistência intelectual).
Mas, o choque anafiláctico que sofri com o penoso percurso da procissão política deste país no final do ano (temos que convir que o Cavaco parece um "gato-pingado" e o Sócrates um "undertaker" americano luxuoso, vestido em imagináveis interiores Calvin Klein) deixou-me em estado de imponderabilidade. Tem sido uma espécie de enterro anunciado, à la G.G.Marquez, num pantâno tropical exótico, tipo Macondo, onde as pessoas morrem rodeadas de moscas, zumbindo de forma simpática e alegremente, confortadas pelos fantasmas familiares que insistem em nos assombrar, com a mais pacata das ternuras. Não há nada pior que vizinhos excessivamente simpáticos, tal como governantes previdentes demais com o nosso bem estar!
Fazem-me lembrar o eco das torneiras avariadas dos WC públicos que por si só nos dão vontade de mijar, e substituem o "shhhhhshhhhh" que as nossas mães apressadas faziam, para nos solucionar o acto.
Pois é exactamente essa a sensação que eu tenho com os meus governantes actuais: que me forçam a mijar mesmo se não tiver vontade!
Não me levem a mal, porque a linguagem é uma legistação - como disse Roland Barthes -, e a língua é o seu código. Se houver muitas citações neste texto, lembrem-se sempre daquela máxima: "quando cito alguém, estou convocando os meus cúmplices". Além disso, estou no início do ano, transitário, transitivo e transitório.... o que me constitui como irresponsável - mas totalmente lúcido.
Eu tinha preparado para lhes deixar aqui uma receita de "cock au vin" - mas como tenho pânico de cogumelos, arranjei uma substituição. Chama-se: "Vê-lá-se-a merda do-frango-ainda-tá-bom". É um frango semiológico. Quer dizer, depois de estar há um tempo suficientemente considerável no frigo, para se constituir como um "happening", ou um sinal de trânsito com uma exclamação, a gente tem que cozinhar a besta. Um frango obstinado! Que é irredutível às filosofias tipificadas.
Toda a gente já releu a Montanha Mágica do Thomas Mann (quem não releu... leia!). A tuberculose através da leitura. Pois fique sabendo que este frango cura tudo. Até os olhares nostálgicos que se podem sentir quando olhamos paisagens que, de tão avassaladoras, nos condenam à morte. Ou ao aborrecimento! que é uma forma suprema de spleen. Às vezes de um tédio inominável. Lembram-se da "Morte em Veneza"? sob o peso do Adagietto da Sinf.#5 de Mahler? Brilhante!
Mahler também tinha paisagens musicais como Erik Satie. Mais dramáticas, a despontar o Wagnerianismo!
O Philippe Ariès falava de "São Paulo e a Carne" dizendo que o santo descrevia os pecados dando-lhe uma ordem que parecia seguir uma hierarquia. Santo Agostinho também tinha esse fenómeno da construção da virtude depois de usufruir dos pecados. Al Berto fazia vastas referências a Foucault, Flandrin, Pollak, etc., com o mesmo intuito... "Só o excesso nos confere a lucidez da abstinência".
Actualmente, os psicólogos e os economistas dizem isso de outra maneira "é preciso bater no fundo". De que 'fundo' falam, jamais saberemos. Parece que há um fundo em nós feito de resoluções de situações baldadas ao insucesso.
Por exemplo, Victor Hugo, que 'snifava' éter, presumo, construiu grande parte da sua maior poesia nestas percepções dos abismos, quedas, vertigens e viagens - se lidas sob o olhar da Inquisição, fariam do homem bruxo! E, no entanto, é um dos maiores escritores do mundo. Convenhamos, a sua poesia é algo assustadora!
Bom, então aqui fica a receita do meu "frango-ano-novo".
1. Frango cortados aos bocados - esquecido no frigorífico.
Mete-se o animal dentro de uma tigela suficientemente grande para ele caber com vários ingredientes. Dá-se um pouco de sal - toda a gente diz que não e eu digo que sim!
Eu tinha um resto (1/2 litro) de Porca de Murça tinto e cobri o frango. Ponham vinho de qualidade - não tem que ser obrigatoriamente nenhuma marca conceituada.
Juntamente com o vinho e o frango cortado aos pedaços junta-se uma laranja cortada aos gomos, com casca; uma cebola (grande) descascada, cortada aos gomos, às rodelas, como quiserem. Quatro dentes de alho, com casca, esmagados à mão... não cortem com a faca. Uma colher de chá de "herbes de provence" (é fácil de arranjar), 2 folhas de louro velho esmagado com a mão. Já disse... um pouco de sal (pouco). Esta marinada deixa-se da noite até ao dia seguinte.
No dia seguinte retira-se o frango da marinada e faz-se um refogado. Acrescenta-se a gosto 2 ou 3 colheres de caril em pó. Eu não utilizo caril indiano por isso ponho um pouco de piri-piri. Junta-se ao refogado a marinada 'coada' - tudo em lume muito brando - tapa-se e deixa-se apurar em lume muito baixo durante um bom bocado.
Ao lado coze-se arroz. O arroz tem que ficar NEUTRO. Coze-se com água e sal. Após a cozedura, passa-se por água para libertar. Volta à panela a aquecer.... quem gostar junta um pouquinho de manteiga, enrola com passas. No forno torram-se pinhões. Junta-se ao arroz com passas já passado pela manteiga.
Bom apetite!





terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Elis Regina - Atras da Porta - ao vivo

NO COMMENTS!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Vale mil palavras!

sábado, 10 de janeiro de 2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

VIVA A MAFIA ...... russa!!!

É bom não rir muito da "tourada" Russia/Ukrânia em relação ao fornecimento do Gás à Europa do norte. A 'Gazprom' russa está pronta para comprar à Argélia o nosso fornecimento...
leia aqui:

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

EXCERTOS DE UMA RESSACA ANUNCIADA


Dizia Albert Camus: "Gostaria de viver a minha vida como se Deus existisse. Gostaria de morrer e descobrir que Ele não existe. Gostaria mais de saber que depois de eu morrer, afinal Ele está lá".
Albert Camus e Henry Bergson são dois pensadores do mesmo tempo. Não podem ser inseparáveis: Bergson morreu em 41, Camus nos anos 60. Um, o criador do "Estrangeiro" e da "Peste", o outro o grande filósofo do "Ensaio sobre os dados imediatos da consciência", e do desencorajador "Les deux sources de la morale et de la réligion".
Se não me engano Camus morreu num acidente, entre Nice e Paris... como diriam os jornalistas actuais "acidente nunca muito bem compreendido"!
Bergson, por seu lado, era Berekson, nome que tinha vergonha de usar por ser de origem judaica. Era polaco judeu por parte do pai, meio irlandês. Mas ambos partilhavam, de maneira um tanto enigmática, a cultura da verdade.
A verdade quando é recolhida, é uma coisa algo arqueológica, descobre-se em pequenos pedaços, como um puzzle de uma história de Agatha Christie. Peças. Pedaços. A verdade pode ser-nos entregue em pequenos grãos de areia que podemos contar. Ou que decidamos não contar, e jogar no lixo da história.
A verdade, como os pássaros em voo, cagam-nos em cima, numa praça Veneziana inundada de música de Rimsky-Korsakoff. A pequena princesa abandonada, sem príncipe, um conto de amor baldado ao insucesso!

Camus nunca nos explicou porque nos sentimos estranhos entre os estranhos. Essa estranheza de compartilhar o mundo que se torna um fenómeno apenas, onde imunes ao amor e à solidão nos fazemos deuses.
Imagine-se o pobre Deus entre as galáxias sem um amigo para conversar. Não vai falar com a pomba, assustadiça e espalhafatosa!... não vai falar com o espirito-santo, a arrastar correntes num qualquer castelo húmido inglês, onde só o vento se ouve uivante pelos interstícios das portadas! Também não se vai meter no Vaticano, rodeado daqueles moçoilos de saias - coisa arrepiante - que contam mentiras há dois mil anos.

Bergson perguntava no seu ensaio O Riso, "porque nos rimos de um pessoa que tropeça e cai no chão? É algo perigoso, não deviamos rir de tal coisa. Porque nos rimos de um 'marreco', ou de uma pessoa com gaguez? Nada disso tem piada... e no entanto RIMOS!"
Responde depois que... "não somos nós que rimos. É o espírito que ri do corpo desastrado que não é capaz da perfeição!"
Os Lamas do Tibete, ainda não ocupado pelo formigueiro chinês, costumavam dizer "antes de morreres, não esqueças de agradecer ao teu companheiro, ao teu corpo, pela viagem que fizeste. Foi o teu melhor amigo, e ele não entende o que é a morte. Por isso agradece-lhe a vida!"

Deus, e os seus silêncios grandes demais!
BOM ANO 2009 PARA TODOS.