quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Alea Jacta Est


Os americanos não deixam de me surpreender.
Depois do depoimento de Alan Greenspan, o velho Guru do Liberalismo, da Reserva Federal dos Estados Unidos, ter vindo a público humilhar-se e reconhecer que estivera errado durante 40 anos, acerca de infalibilidade da auto-regulação dos mercados - que causou um caos financeiro a nível global com a falência até de países inteiros - i.e., a Islândia - , histeria bolsista incontrolável e até nacionalizações de Bancos privados - à boa maneira Marxista - eis que, nas últimas eleições, os Estados Unidos da América, elegem um negro para Presidente: Barack Obama.

Barack Obama é um jovem ainda, e vê-se a braços - depois de uma das mais renhidas eleições de sempre nos EUA - com problemas tão vastos e tão complexos, criados pelos seus antecessores, que será preciso ser quase um super-homem, para não desmotivar em frente ao caos que herdou. E, um dos maiores e mais temíveis desafios com que se vai confrontar, é o de não frustrar as espectativas de todo o planeta, que tem os olhos desesperadamente postos em si.

É uma tarefa hercúlea, aquela que o espera. Tarefa tanto maior quando se trata de sanar problemas que não têm apenas especificamente a ver com os dramas comuns da burocracia de estado. A crise do neo-liberalismo mudou o mundo tão completamente que, mesmo agora, não sabemos exactamente qual vai ser o desfecho. A ressaca ainda não aconteceu, porque o sistema em funcionamento automático, vai dando a ilusão de normalidade até se despenhar por completo.

O que nos espera a todos é um enigma, sobre o qual Obama vai ter que esquematizar a sua actuação. Porque ele, afinal, é, na verdade, o Senhor do Mundo. E, não bastasse a cor da sua pele - durante tanto tempo menosprezada e vilipendiada no curso da História da humanidade - terá que acarretar também com os erros, não de um homem apenas, mas de um sistema, de uma filosofia de vida, cuja página de história foi virada no estretor do seu fracasso.

Mais que não fosse, apenas por isso, Barack Obama ficaria na História. Mas ele irá querer mais. Vai querer provar que a sua raça tem outro paradigma diferente daqueles que desprezaram e humilharam os seus ancestrais.
Ninguém é impunemente Presidente do país mais poderoso do mundo sem perceber que isso lhe impõe compromissos com a história do próprio planeta, com todos os seres que compartilham a sua contemporaneidade.

Se a América foi criada de um grito de libertação das grilhetas da adolescência rebelde europeia, esta nova América, que se desenha, vai ser um urro intestino do seu próprio crescimento psicológico, do seu ritual de passagem ao estado adulto, da sua maturidade.
Todos os sinais estão lá. A maré está a mudar. Os dados foram lançados. Alea jacta est.