quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O QUOCIENTE INTELECTUAL JÁ NÃO É O QUE ERA....

Toda a gente sabe, ou pelo menos ouviu falar, dos testes Q.I. (Quociente Intelectual) que determinam o grau de inteligência de cada indivíduo. Não deve haver assunto mais polémico em toda a psicologia aplicada.
Os testes de Inteligência começaram em França (1904) com Alfred Binet, que foi mandatado pelo governo francês a inventar um 'teste' - com o fim de criar maior eficácia no sistema escolar - a fim de diferenciar as crianças intelectualmente normais daquelas que lhes eram inferiores. O objecto do estudo visava apenas a criação de escolas especiais, para estas últimas, de maneira a que elas recebessem educação especial e não prejudicassem o bom funcionamento das escolas normais.
Isso levou ao desenvolvimento da Escala Simon-Binet. Esse teste consistia em levar as crianças a fazer algumas tarefas, tal como: seguir ordens, copiar padrões, denominar objectos e colocar coisas na devida ordem ou arrumá-las.
Esse teste foi experimentado nas crianças das escolas de Paris e criou uma base de dados Standard. Por exemplo, se 70% das crianças de 8 anos conseguisse passar um determinado teste, isso representaria o nível de inteligência de uma criança de 8 anos. A seguir a este trabalho de Binet a frase "quociente de inteligência", ou Q.I., entrou no vocabulário comum. O QI é um ratio da 'idade mental' e a idade cronológica, tendo 100 por média. Assim, uma criança de 8 anos que passe num teste para uma criança de 10 anos, terá um QI de 10/8 x 100, ou 125.
Este estudo constituiu-se como um método revolucionário na avaliação da capacidade mental a nível individual. No entanto, o próprio Binet alertou contra a má utilização da escala ou a extrapolação das suas implicações. Segundo Binet, a escala fora criada especificamente com o propósito de servir de guia para estudantes que pudessem beneficiar de aulas extras. O pressuposto era de que um baixo QI indicava necessidade de extra aprendizagem e não incapacidade de aprendizagem. Não estava destinada a ser usada como "medida de graduação de estudantes de acordo com o seu valor intelectual", e adiantou que "a escala não permitia medir a inteligência, porque as qualidades intelectuais não são sobreponíveis e, portanto, não podem ser medidas como o são as superfícies lineares".
Ainda que Binet tivesse salvaguardado contra a utilização abusiva da sua escala, os educadores e psicólogos americanos, esquecendo em absoluto as suas advertências, tornaram-se campeões da sua utilização, e os testes de inteligência na América tomaram uma importância e respeitabilidade completamente fora de proporções, ou seja, excedendo vastamente o propósito específico determinado pelo seu inventor numa generalização abusiva.
O certo é que os testes de QI actualmente utilizados não se baseiam nem numa teoria plausível, nem medem com segurança aquilo que a nível contemporâneo pensamos saber acerca da "inteligência". A sua interpretação é por isso muitíssimo discutível - a não ser no âmbito estrito definido pelo plano inicial de Binet.
Por exemplo, nos tempos mais recentes, apareceram outras concepções que se distanciam daquela ideia original de inteligência definida como potencial intelectual, qualquer coisa com que se nasceu e que pode ser medida, e que é dificil de mudar.
Howard Gardner, um psicólogo de Harvard, surgiu com uma nova ideia, a teoria das inteligências múltiplas. Em 1983 com o seu livro Frames of Mind vem dizer-nos que todas as pessoas têm diferentes espécies de 'inteligências', mais especificamente 8 inteligências, sugerindo ainda a possibilidade de uma nona, que denomina como "inteligência existencialista".
De maneira a abarcar o total de capacidades e talentos da pessoa humana, Gardner sugere-nos que o ser humano possui inteligências diversificadas:
1. Inteligência Visual-Espacial - determinada pelo gosto da leitura e a escrita; a facilidade de solucionar puzzles; capacidade na interpretação de imagens, gráficos ou cartas; o gosto pelo desenho, pintura e artes visuais e a prontidão no reconhecimento de padrões. (Arquitecto, Artista, Engenheiro, etc.)
2. Inteligência Linguística-Verbal - caracterizada pela facilidade de recordar informação escrita e falada; o gosto pela escrita e pela leitura; destreza nos debates ou no discurso persuasivo; facilidade na explicação de coisas; contador de histórias humorístico. (Jornalista, Advogado, Professor, Escritor)
3. Inteligência Lógica-Matemática - excelência na resolução de problemas; prazer na apreciação de ideias abstractas; capacidade de condução de experiências; facilidade na solução de computação complexa. (Cientistas, Matemáticos, etc.)
4. Inteligência Kinestética-Corporal - (kinestética = capacidade de aprender fazendo) facilidade na dança e nos desportos; prazer na criatividade manual; excepcional coordenação física; tende a recordar no acto de fazer, mais que no de ouvir ou ver. (Dançarino, Escultor, Actor, etc.)
5. Inteligência Interpessoal - facilidade na comunicação verbal; hábil na comunicação não-verbal; vê situações de perspectivas diferentes; cria relações positivas com outros; excelente na resolução de conflitos de grupos. (Psicólogos, Filósofos, Conselheiros, Políticos, etc.)
6. Inteligência Musical - prazer no canto e na interpretação de instrumentos musicais; facilidade de reconhecimento de padrões musicais e tonalidades; excelente na recordação de melodias; compreensão profunda da estrutura musical, do ritmo e das notas. (Músico, Compositor, Maestro, etc.)
7. Inteligência Intrapessoal - bom na análise de forças e fraquezas; gosto pela análise de teorias e ideias; excelente auto-conhecimento; compreende claramente a base das suas motivações e sentimentos. (Teórico, Filósofo, Cientista, Escritor, etc.)
8. Inteligência Naturalista - interesse por Botânica, Biologia e Zoologia; escelente categorizador e catalogador de informação; adora o ar livre, camping, jardinagem, exploração; não gost de aprender tópicos que não se relacionem com a natureza. (Biologo, Conservador)
A novíssima teoria de Gardner tem muita popularidade entre os educadores e muitos professores utilizam-na actualmente como filosofia educativa nas escolas, tentando enquadrar na prática as teses do cientista.