Dizia Albert Camus: "Gostaria de viver a minha vida como se Deus existisse. Gostaria de morrer e descobrir que Ele não existe. Gostaria mais de saber que depois de eu morrer, afinal Ele está lá".
Albert Camus e Henry Bergson são dois pensadores do mesmo tempo. Não podem ser inseparáveis: Bergson morreu em 41, Camus nos anos 60. Um, o criador do "Estrangeiro" e da "Peste", o outro o grande filósofo do "Ensaio sobre os dados imediatos da consciência", e do desencorajador "Les deux sources de la morale et de la réligion".
Se não me engano Camus morreu num acidente, entre Nice e Paris... como diriam os jornalistas actuais "acidente nunca muito bem compreendido"!
Bergson, por seu lado, era Berekson, nome que tinha vergonha de usar por ser de origem judaica. Era polaco judeu por parte do pai, meio irlandês. Mas ambos partilhavam, de maneira um tanto enigmática, a cultura da verdade.
A verdade quando é recolhida, é uma coisa algo arqueológica, descobre-se em pequenos pedaços, como um puzzle de uma história de Agatha Christie. Peças. Pedaços. A verdade pode ser-nos entregue em pequenos grãos de areia que podemos contar. Ou que decidamos não contar, e jogar no lixo da história.
A verdade, como os pássaros em voo, cagam-nos em cima, numa praça Veneziana inundada de música de Rimsky-Korsakoff. A pequena princesa abandonada, sem príncipe, um conto de amor baldado ao insucesso!
Camus nunca nos explicou porque nos sentimos estranhos entre os estranhos. Essa estranheza de compartilhar o mundo que se torna um fenómeno apenas, onde imunes ao amor e à solidão nos fazemos deuses.
Imagine-se o pobre Deus entre as galáxias sem um amigo para conversar. Não vai falar com a pomba, assustadiça e espalhafatosa!... não vai falar com o espirito-santo, a arrastar correntes num qualquer castelo húmido inglês, onde só o vento se ouve uivante pelos interstícios das portadas! Também não se vai meter no Vaticano, rodeado daqueles moçoilos de saias - coisa arrepiante - que contam mentiras há dois mil anos.
Bergson perguntava no seu ensaio O Riso, "porque nos rimos de um pessoa que tropeça e cai no chão? É algo perigoso, não deviamos rir de tal coisa. Porque nos rimos de um 'marreco', ou de uma pessoa com gaguez? Nada disso tem piada... e no entanto RIMOS!"
Responde depois que... "não somos nós que rimos. É o espírito que ri do corpo desastrado que não é capaz da perfeição!"
Os Lamas do Tibete, ainda não ocupado pelo formigueiro chinês, costumavam dizer "antes de morreres, não esqueças de agradecer ao teu companheiro, ao teu corpo, pela viagem que fizeste. Foi o teu melhor amigo, e ele não entende o que é a morte. Por isso agradece-lhe a vida!"
Deus, e os seus silêncios grandes demais!
BOM ANO 2009 PARA TODOS.
Albert Camus e Henry Bergson são dois pensadores do mesmo tempo. Não podem ser inseparáveis: Bergson morreu em 41, Camus nos anos 60. Um, o criador do "Estrangeiro" e da "Peste", o outro o grande filósofo do "Ensaio sobre os dados imediatos da consciência", e do desencorajador "Les deux sources de la morale et de la réligion".
Se não me engano Camus morreu num acidente, entre Nice e Paris... como diriam os jornalistas actuais "acidente nunca muito bem compreendido"!
Bergson, por seu lado, era Berekson, nome que tinha vergonha de usar por ser de origem judaica. Era polaco judeu por parte do pai, meio irlandês. Mas ambos partilhavam, de maneira um tanto enigmática, a cultura da verdade.
A verdade quando é recolhida, é uma coisa algo arqueológica, descobre-se em pequenos pedaços, como um puzzle de uma história de Agatha Christie. Peças. Pedaços. A verdade pode ser-nos entregue em pequenos grãos de areia que podemos contar. Ou que decidamos não contar, e jogar no lixo da história.
A verdade, como os pássaros em voo, cagam-nos em cima, numa praça Veneziana inundada de música de Rimsky-Korsakoff. A pequena princesa abandonada, sem príncipe, um conto de amor baldado ao insucesso!
Camus nunca nos explicou porque nos sentimos estranhos entre os estranhos. Essa estranheza de compartilhar o mundo que se torna um fenómeno apenas, onde imunes ao amor e à solidão nos fazemos deuses.
Imagine-se o pobre Deus entre as galáxias sem um amigo para conversar. Não vai falar com a pomba, assustadiça e espalhafatosa!... não vai falar com o espirito-santo, a arrastar correntes num qualquer castelo húmido inglês, onde só o vento se ouve uivante pelos interstícios das portadas! Também não se vai meter no Vaticano, rodeado daqueles moçoilos de saias - coisa arrepiante - que contam mentiras há dois mil anos.
Bergson perguntava no seu ensaio O Riso, "porque nos rimos de um pessoa que tropeça e cai no chão? É algo perigoso, não deviamos rir de tal coisa. Porque nos rimos de um 'marreco', ou de uma pessoa com gaguez? Nada disso tem piada... e no entanto RIMOS!"
Responde depois que... "não somos nós que rimos. É o espírito que ri do corpo desastrado que não é capaz da perfeição!"
Os Lamas do Tibete, ainda não ocupado pelo formigueiro chinês, costumavam dizer "antes de morreres, não esqueças de agradecer ao teu companheiro, ao teu corpo, pela viagem que fizeste. Foi o teu melhor amigo, e ele não entende o que é a morte. Por isso agradece-lhe a vida!"
Deus, e os seus silêncios grandes demais!
BOM ANO 2009 PARA TODOS.