sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

De volta aos símbolos


O Inverno normalmente conduz-nos à (re)leitura no cantinho da lareira, a ouvir a chuva lá fora, e música de Wagner - sobretudo as aberturas - Tanhauser é o meu perdilecto musical, depois de Rimsky-Korsakov (Scheherazade - the young prince and the young princess). Sempre fui um amante das grandes orquestrações musicais, algo apoteóticas, mas de cariz romântico, provavelmente porque a complexidade dos temas orquestrais fazem um duelo positivo com os sentimentos que nos despertam. Por exemplo, jamais teria compreendido do todo as matizes nostálgicas das filmagens ao fim da tarde de 'Morte em Veneza' do Visconti sem o Adagietto da sinfonia 5 de Mahler a enroupar o drama. Quem ouve o tema, vê a luz inesquecível de Visconti naquela praia de inenarrável tristeza. Ali, onde a vida se esvai em esquecimento súbtil, como um desmaio infinito.
As palavras são quase sempre insuficientes para explicar o que a música nos provoca. Tal como a filosofia é vadia na designação de Deus. Se a música é a conceptualização de símbolos que esculpem sentimentos, a filosofia tenta traduzir em palavras o que inadequadamente a racionalidade não soluciona. Montaigne, creio eu, dizia, que filosofar é aprender a morrer.
Isto para referir que descobri, cheio de pó, nas minhas estantes, "A Lição" de Roland Barthes. Foi uma redescoberta enternecedora. Suponho que a criatura foi posta fora da universidade quando deu esta palestra.
A ver, actualmente a nível universitário é uma das fontes mundiais mais respeitada e consentânea no que diz respeito a semiologia, ou semiótica, como quiserem - na explicação dos símbolos.
What brings together Mahler, e o adagietto # 5, Veneza, Visconti e os simbolos?
As grandes lonjuras são sempre construídas num imediato finito. O horizonte palpável, e não os grandes voos de águia, importam à definição de finitude. Tem que ser local, doméstico, palpável...para se constituir dramático. As construções épicas do tipo Wagneriano impõem condições não designativas, são intemporais e centradas em valores intrínsecos básicos, como o branco e o preto, o bem e o mal.
Enquanto que a elaboração sobre o humano, demasiadamente humano, como dizia Nietzsche, é nossa incapacidade de ser épicos. Somos apenas mortais. E, mais do que isso: falhamos.
É essa falência da consecução de objectivos que cria a nostalgia - porventura o Fado português nasceu aí. As praias desertas de mulheres vestidas de negro - como as mulheres de Atenas - bramindo contra as ondas que lhes roubaram os maridos e as esperanças.
Mas voltando à imagem de Visconti e à escolha do adagietto de Mahler. Roland Barthes escreveu um belissimo livro "L'Empire des Signes" onde demonstrava a execução da arquitectura nipónica e a relação com a expressão facial. Provavelmente as imagens mais relevantes do livros são 2 expressões (na versão francesa, pelo menos)... a que abre e fecha o livro. É quase indetectável o sorriso entre as duas imagens. Mas para nós humanos, e para os cães, é evidente que há uma mudança. É a disposição da alma que mudou. E nós entendemos.
As imagens que nos mostra das casas japonesas, mais ou menos "a máxima mistica", o que está encima é igual ao que está em baixo, é tão patente que, se voltarmos as fotos de patas-ao-ar, ficamos ainda mais confusos.
Nesse caso onde está o significado que se esconde na paisagem? Qual é o símbolo que designa o dramatismo? Como podemos percebê-lo indistinto - ainda assim receptível pela nossa percepção de animais condicionados?
Mas como se entretece imagens com música para determinar sentimentos espectáveis no ser humano. Música e imagem são duas linguagens diferentes.
Qualquer director de fotografia saberá certamente o que retirar ou incluir dentro do visionamento da objectiva para causar o efeito de percepção adequado. Mas, como pode a música sublinhar o contexto visível que prdouz a emoção?
Onde estão os símbolos? Qual é a ligação? Que linguagem é essa que nos escapa e que fala com a alma e não com o raciocínio.