Berlim, 06 Ago (Lusa) - O cineasta espanhol Pedro Almodóvar sente-se uma espécie de Deus e considera que o retrato da sociedade actual dos seus filmes está muito mais próximo da realidade do que o modelo de família defendido pelo Vaticano.
"Um director é uma espécie de Deus. Digo-o eu, que não sou crente", sustenta Almodóvar, numa entrevista publicada hoje no semanário alemão Die Zeit, coincidindo com a estreia do seu último filme, "Abraços desfeitos".
"No meu mundo cinematográfico não tem absolutamente nenhum papel o eco de que o Papa só reconhece a variante católica da família", afirmou Almodóvar.
O realizador lembrou que há mais de 20 anos roda películas nas quais "uma família é um grupo de pessoas, centrado num pequeno ser, que se querem e satisfazem as suas necessidades, sem importar se se trata de pais separados, travestis, transsexuais ou monjas com SIDA".
Almodóvar sugere na entrevista que, de vez em quando, o Papa "deveria sair, passear fora do Vaticano e ver bem o que é uma família de hoje".
"É uma absoluta loucura não reconhecer como vivem hoje em dia milhões de pessoas", sustenta, para concluir: "As minhas famílias são mais reais que as do Papa, porque não vivem de acordo com nenhum tipo de dogma, mas sim de acordo com os seus compromissos com a vida".
Almodóvar foi segunda-feira a Berlim acompanhado da actriz Penélope Cruz, para a estreia do seu novo filme, que tem recebido críticas muito boas e que na Alemanha chegou a ser considerado perfeito do ponto de vista formal.
(Lusa)