Se há tema de conversa que irrite de maneira peristáltica a Igreja Católica, é a abordagem do seu tabú de estimação: o 1º Concílio de Nicea.
Foi um evento que aconteceu há muito tempo, em 325 Anno Domini (D.C.), a que supostamente ninguém deveria já dar atenção nenhuma mas, o caso é que --- por muitos embustes, crimes e hecatombes que a Igreja tenha perpetrado durante o seu sangrento percurso de evangelização do Mundo (as estatísticas contam em cerca de 50 milhões os inocentes designados de 'heréticos' que foram chacinados às suas mãos ao longo da História) --- este Concílio consegue exceder tudo o que uma imaginação delirante possa conceber.
Foi neste célebre Concílio, orquestrado pelo arqui-assassino Constantino, Imperador de Roma (que a sangue frio já tinha assassinado doze dos seus familiares, inclusive a sua própria esposa), mais 300 líderes religiosos de muitos credos diferentes, numa atmosfera de profunda discordância, ciúme, desconfiança e intolerância, que a Bíblia foi inventada! Na verdade, segundo Voltaire no seu
Dictionnaire Philosophique, na Secção
Conciles (a tradução é minha) "
É contado no suplemento do Concilio de Nicea que os Padres estavam muito embaraçados para saber quais eram os livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamento e colocaram-nos a trouxe-mouxe sobre o altar e os livros a rejeitar cairam por terra." ( Édition 1767 du Dictionnaire Philosophique).
Para além deste patético relato, não deixa de ser significativamente espantoso que o Imperador Constantino, homem de conhecida reputação de devasso pelas suas orgías e crimes, se preocupasse sobremaneira com religião
. Muito menos ainda com a matéria em discussão no Concílio acerca da natureza divina de Jesus. Aliás, Constantino escreve uma carta ao clérigo de Alexandria em que dizia "
Vós querelais sobre um assunto bem insignificante. Essas subtilezas são indignas de gentes razoáveis."
Tratava-se de saber se Jesus tinha sido criado ou incriado. Depois de muitas altercações, foi finalmente decidido que o Filho era tão antigo quanto o Pai, e
consubstancial ao Pai.
Mas esse assunto teológico não nos interessa aqui, muito embora seja interessante ler Voltaire e saber que neste Concílio ainda não existia a Santíssima Trindade. A fórmula final deste Concílio determina apenas: "
Acreditamos em Jesus consubstancial ao Pai, Deus de Deus, luz da luz, engendrado e não feito; acreditamos também no Espirito-Santo". Tudo isto à revelia de 17 bispos e dois mil padres que protestaram, segundo a Crónica de Alexandria conservada em Oxford, mas que não foram tidos em consideração por sempre pobres.
De facto, o único interesse que o Imperador Constantino tinha, em todo aquele imbróglio, era acabar com a sangrenta perseguição e massacre que movia àqueles primeiros cristãos, comunistas e pacifistas, que lhe prejudicavam a imagem e, ao mesmo tempo, sanar o problema da antiga religião de Roma, já em decadência, afim de constituir uma nova religião de Estado mais de acordo com o seu figurino. Os Padres da Igreja, outrora pagãos, e cujas mãos ainda estavam manchadas com o sangue da perseguição aos Essénios, viram que, com a adopção do Cristianismo, de forma revista, é claro, poderiam tirar partido do prestígio dos santos mártires junto da opinião pública e, ao mesmo tempo, agradar a Constantino. Até Reville, um estudioso católico, escreve com espanto: "
O triunfo da cristandade durante o reinado de Constantino foi sempre considerado como uma revolução inesperada e uma daquelas surpresas históricas que, não tendo relação com qualquer outro fenómeno do passado, parecem quase um milagre. Leva-nos a conjecturar qual terá sido o processo pelo qual a mente humana tão rapidamente passou do desdém e da mais completa recusa dos ensinamentos da cristandade para o interesse e simpatia às doutrinas do novo credo..."
De maneira a tornar o desprezado culto dos Essénios aceitável para Constantino, Imperador de Roma, os Padres da Igreja tiveram que retirar da doutrina alguns pontos objeccionáveis por ele, como o consumo da carne e de bebidas alcoólicas. Foram então designados alguns "correctores" cuja tarefa foi a de reescrever os Evangelhos, retirando tudo o que dizia respeito ao vegetarianismo e abstinência ao alcoól. Os Padres da Igreja tinham um interesse especial em fazer uma tão radical mudança: eles também não queriam mudar os seus hábitos
tão drasticamente. Ainda assim, Constantino insatisfeito com as decisões do Concílio, que obrigou a votar segundo a sua vontade, e impedido de matar Cristãos para seu gozo pessoal, inaugurou a primeira perseguição sistemática do Governo aos dissidentes cristãos, que denominou de heréticos (a maior parte deles Arianos), que foram forçados a fugir quando os trabalhos e livros de Arius foram confiscados e destruídos. Foram, no entanto, necessários mais duzentos anos para conseguir expurgar da doutrina cristã os conceitos de preexistência, reencarnação e salvação através da união com Deus.
Que os Evangelhos foram alterados e reescritos no Concilio de Nicea é provado pela declaração do Arcedíago Wilberforce que escreve: "
Alguns não estão cientes que após o Concilio de Nicea em 325 DC os manuscritos do Novo testamento foram consideravelmente mexidos. O Professor Nestle na sua "Introduction to the Textual Criticism of the Greek Testament" diz-nos que alguns académicos, denominados de "correctores" foram designados pelas autoridades eclesiásticas e comissionados a corrigir o texto da Escritura no interesse do que era considerado Ortodoxia."
Como comentário a esta declaração, o Rev. G.J. Ouseley no seu "Gospel of the Holy Twelve
" escreve: "Aquilo que os 'correctores' fizeram foi cortar minuciosamente dos evangelhos alguns ensinamentos do Nosso Senhor que eles não faziam tenções de seguir --- nomeadamente no que diz respeito a comer carne e tomar bebidas fortes (...)"
Há evidência de que não só as doutrinas originais do Cristianismo Essénio foram radicalmente mudadas no Concilio de Nicea e substituidas por outras mas também que o HOMEM que corporizava as doutrinas originais foi, da mesma maneira, subsituído por outro que exemplificaria as novas doutrinas. O nome do segundo homem, que não era vegetariano, que não proibia a matança de animais, era Jesus Cristo, que foi colocado no lugar de Apolónio de Tiana, o histórico grande professor do mundo no primeiro século.
O primeiro acto dos Padres da Igreja depois de criarem a nova religião e o seu messias, como nenhuma das coisas existira anteriormente, foi de mandarem queimar todos os livros a que puderam jogar as mãos, especialmente aqueles que tinham sido escritos nos últimos séculos, que não faziam menção a Jesus mas que se referiam largamente a Apolónio como líder espiritual do século primeiro. Se esses livros não fossem destruidos constituiriam uma ameaça à sobrevivência da sua fraude. Foi por esta a razão que os padres da igreja se deram tanto trabalho a queimar antigas livrarias, incluindo a famosa Biblioteca de Alexandria e os seus 400.000 volumes que foram reduzidos a cinzas por édito de Theodosius, quando uma multidão cristã destruiu o Serapeum, onde manuscriptos e pergaminhos eram guardados.
Contudo, os homens da igreja falharam o seu propósito porque os bibliotecários de Alexandria, prevendo os acontecimentos, retiraram secretamente os seus volumes mais preciosos, entre os quais aquele que tem causado uma longa discussão: "Life of Apollonius of Tyana" escrito por Flavius Philostratus no início do terceiro século D.C.
A razão pela qual este livro é tão temido pela Igreja é somente porque não faz qualquer referência a Jesus e ao Cristianismo. Apresenta Apollonius como o grande mestre do primeiro século, reverenciado por todo o Império Romano, por todos, desde o Imperador à plebe.
F.A. Campbell no seu livro "Apollonius of Tyana" escreve: "
O nascimento de Apollonius é determinado no ano 4 A.C. Mas toda a gente sabe, de acordo com a actual computação, que o inicio da era Cristã está incorrecta e que o primeiro ano do Senhor deve ser datado quatro ou cinco anos antes. Se as natividades Apoloniana e Cristã pertencem ambas ao mesmo ano, a coincidência deve merecer mais atenção do que aquela que tem recebido."
Tanto a grata Tyana como a ingrata Nazareth, embalaram um profeta de vida impecável, de poderes maravilhosos, de super-abundância de amor e carinho, e de virtude heróica. Tanto Apollonius de Tyana como Jesus de Nazareth nasceram no mesmo lustro, se não no mesmo ano. Tanto o bébé de Tyana como o de Nazareth foram originados por um pai divino e uma mãe humana e ambas as crianças fizeram o seu primeiro choro entre cânticos celestiais. E não são só estes os paralelos nas memórias dos Tyanianos e dos Nazarenos."
Depois de Campbell, Tschendorf acrescenta: "
Autor atrás de autor, volume atrás de volume, a vida de Cristo pode ir aparecendo até o universo estar cheio e, no entanto, tudo o que temos da vida de Jesus,
encontra-se no Evangelho de Mateus.
Mais nenhuma pessoa especialmente associada a Jesus conta a sua história."
Taylor, em "Diegesis", 1829 escreve: "
Investigámos todos os documentos que reclamaram uma plausível investigação e que a história preservou nas transacções do primeiro século, e nem uma simples passagem (mesmo que tivesse sido escrito em qualquer tempo dentro dos primeiros séculos) pôde ser produzida que mostrasse a existência de um tal homem Jesus Cristo ou um tal grupo de homens que pudesse assemelhar-se aos seus discípulos."
Aquilo que aqui é transcrito não pretende de maneira nenhuma minimizar o Cristianismo como religião ou filosofia de vida. Tenta apenas repôr a História para que outros não tenham a veleidade de a reescrever a seu bel-prazer.
Para informação mais especializada, além da 'montanha' de discussões historico-filosóficas sobre este assunto que encontrei na Net, remeto a todos para:
"Apollonius of Tyana the Nazarene" escrito por Dr. R. W. Bernard, B.A., M.A., PH.D. (1964)
Fieldcrest Publishing Co., Inc. 210 Fifth Avenue, New York 10, NY
http://members.iimetro.com.au/~hubbca/apollonius.htm