A Internet ultimamente tem andado num grande frenesim por causa da Wikipedia, a enciclopédia livre da internet, com a Web 2.0 e o novíssimo Citizendium (compêndio dos cidadãos, para substituir a Wikipedia que, muitos intelectuais dizem ter sido devassada e não dar informações seguras.
Mas ninguém fala do Google, essa máquina de busca maravilhosa que tem fascinado toda a gente --- eu incluído --- pela sua extraordinária e até miraculosa eficácia.
Os americanos, como de costume, resolveram abrir uma Igreja: GoogleChurch.com. Denominaram-na de «Googleonia», e anda tudo muito contente angariando filósofos e pensadores para saber qual será a base transcendental e teológica da máquina!
Ainda assim, já adiataram alguma filosofia ao fenómeno tipo «a Googleonia é destituída de pares de opostos, por isso a dualidade da vida é eliminada...».
Toda a gente minimamente sensata se questiona como uma máquina cibernética, um colossal dicionário, uma majestosa enciclopédia prática, de um dia para o outro se transforma em Deus. A resposta é simples: SÓ NA AMÉRICA.
Os «cartoonistas» é que não tem perdido o seu tempo e o contributo tem sido absolutamente hilariante. Desde desenhos sobre a Santíssima Trindade a informar o Vaticano que tinham passado a «Quadrilátero».... até ao velho Pai dos Céus a interrogar a Pomba se tinha dormido com um computador! Há cartoons imperdíveis sobre aquela monstruosa máquina que tem vindo a pouco e pouco a causar grande inquietação junto dos seus pares. Mesmo William Henry Gates III, tantas vezes apelidado de anti-cristo, ou da Besta do Apocalipso, A MICROSOFT, entraram em pânico e desenvolveram a sua própria máquina de busca, espremidos que estavam entre a publicidade da Overture e a máquina de busca da Inktomi.Logo que teve oportunidade, a Yahoo, tentando desesperadamente equilibrar os pratos da balança, para evitar a concorrência, comprou a Teoma/AskJeeves, que surge com inusitado vigor no mercado.
A nova máquina da Microsoft é o resultado de vários anos de experiência com o seu novo «crawler» e pretende, com a sua ganância impiedosa, fazer ao Google aquilo que já fez anteriormente à Netscape. Aliás, a Netscape deixou pura e simplesmente de existir a não ser como caixa postal. O browser foi desligado.
Mas o Google sentou-se no topo do mercado, de uma maneira aparentemente cândida, facultando de forma gratuita uma série de serviços e recursos gratuitamente que a tornaram não apenas a favorita, por simpatia dos utilizadores agradecidos, como eficaz pela rapidez dos resultados.
Nos últimos anos --- e estes dados estão já desactualizados --- a Google passou do processamento de 100 milhões de buscas diárias para mais de 200 milhões. Apenas um terço provém dos USA, os outros 2/3 são efectuados em 88 diferentes idiomas.
O crescimento exponencial da Internet, segundo a «VeriSign», que opera a maior parte da infra-estrutura da Net, diz que no ano 2000 processava por dia 600 milhões de pedidos de «domain», actualmente processa 9 biliões por dia (estes dados já estão vastamente desactualizados porque mudam a todo o instante). Com a proliferação da rede sem fios «wi-fi» de alta velocidade, que pode aceder à internet em qualquer momento e em qualquer lado, como diz Alan Cohen da Airspace: «Se Deus não tem fios, a Google também não. Se Deus está em todo o lado, a Google sem fios também. Se Deus sabe tudo e vê tudo, a Google também».
O problema que aqui se coloca é que tanto eu, como o FBI, como qualquer terrorista, pode aceder a um número de informações detalhadas, correctas, perigosas ou não perigosas, de igual forma.
E, como é óbvio, surge de súbito o monstro aterrador da «Segurança». à sombra da Segurança mora sempre o Poder, e, o controlo efectivo do Poder, devassa, em nome de "valores que mais altos se alevantam", a vida privada.
A privacidade foi discutida ad nauseum em todos os "fora" da Net, em milhares de páginas de artigos de opinião em todas as línguas do planeta, sem qualquer eficácia visível.
Os «standards» foram mais ou menos respeitados --- veja-se a Alexa que foi a Tribunal e perdeu a causa por utilizar procedimentos que o Google usa actualmente --- até que o gigantismo do Google e a sua eficiência questionaram: «Como é que se faz?».
O que faz o Google com toda a informação que colecta? Como obtém a máquina resultados tão instantâneos e tão correctos? A simples explicação de que funciona ao mesmo tempo com inúmeras máquinas de busca a funcionar em paralelo, ainda que seja verdade, não elucida ninguém.
No passado a discussão sobre a privacidade na Web tinha como objecto principal a defesa do utilizador, o que mudou drasticamente desde o 11 de Setembro. Actualmente a «defesa» do consumidor, a sua privacidade, pode ser a sua ameaça. Tornou-se um paradoxo.
O Google, pelo seu lado, não se mostrou inclinada a declarar-se pelos direitos dos usuários face ao Governo Federal, que em Washington insiste pelo acesso aos dados guardados e à sua análise em nome da «segurança nacional».
Já não bastava o satélite «Echelon» que capta todas as emissões, desde cabos submarinos a telefones e computadores, inclusive conversas privadas de café; o que não seria ceder todos os dados guardados pelo Google para serem escrutinados arbitrariamente pela «Security» americana.
O Google não é diabólico em si mesmo, mas tem as suas particulariedades. Foi a primeira máquina de busca a utilizar um «cookie» que só expirava em 2038. E isto no tempo em que os próprios websites federais eram proibidos de utilizar «cookies» persistentes. E criou um standard. Actualmente, todas as máquinas de busca usam «cookies» eternos.
O Google também não nos diz para que quer os dados, nem durante quanto tempo os mantém guardados. Quando em 2002 o New York Times perguntou a Sergey Brin se alguma vez fora intimado para estas informações, nem obteve resposta à questão.
Com todas as inovações que acrescidas à barra de ferramentas - Google Toolbar - inova antigas versões sem nos consultar. Isto quer dizer que quem tiver, como eu, barra de ferramentas no seu browser, o Google tem acesso directo ao disco rígido do computador. Até a Microsoft, de cada vez que efectua um update, pergunta se desejamos instalar uma nova versão. O Google renova automática e silenciosamente. Deste ponto de vista, Google Toolbar pode ser considerada como um spyware, ainda que os nossos limpadores de spyware não a considerem como tal. Inteligente!
Actualmente o Google monopoliza 75% as referências externas de todos os sites da rede. Os Operadores de Rede não podem viver sem a aprovação do Google, se quiserem intensificar o tráfeco nos seus sites. Se tentarem tirar vantagens de algumas fraquezas dos algoritmos semi-secretos, o Google penaliza-os e o tráfico desaparece. Como não foram criados standards, não há apelo para os sites penalizados.
Com toda esta informação guardada sine dia e mais de 200 milhões de buscas diárias, o Google é uma bomba atómica à privacidade mundial.
João do O'Pacheco