segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

As gaivotas de Sines


Sei que há algures uma referência literária às gaivotas de Borneo, mas li o livro há tanto tempo que não recordo o nome do autor.
Seja como fôr, hoje tive que sair à abertura do café mais próximo para comprar tabaco - pelas 7 e meia da manhã. Como vivo em frente ao mar achei que seria um prazer ir fumar um cigarro à amurada que se debruça sobre a praia e ver o dia despontar. Como muito ilustrativamente dizem os britânicos "morning has broken". Nós somos mais suaves na utilização das palavras.
Eis, senão, que o astro estava num alvoroço. Gaivotas em bando gritavam por todo o lado, o dia tornou-se cinzento escuro e os castelos de nuvens formaram-se num exercício de beleza pura. É raro vermos a arquitectura da natureza nos seus momentos mais púdicos: a manhã.
É tudo muito consentâneo, mesmo quando é ameaçador. A natureza nunca é destructiva mesmo quando é assustadora. A natureza repõe coisas nos seus devidos lugares - é mais ordenadora do que destruidora.
Mas a imagem de um céu cinzento chumbo pejado de gaivotas pairando como fábulas no ar, gritando como exorcismos célticos, foi deveras empolgante.
Este texto não tem mais nada senão isto mesmo. O meu deslumbramento por existir, e descobrir isso fumando um cigarro na bataria do castelo de Sines às 8 da manhã. Qual Vasco da Gama idealizando o caminho para as Indias orientais.
É uma benção viver em frente ao mar e ouvir os gritos das gaivotas por cima do uivo dos ventos como que dizendo, os nossos gritos são a alegria de viver na sinfonia da natureza.
Será que nós humanos conseguiremos não desafinar?