Eu sou um insomne intermitente, o que me leva durante a noite a percorrer a minha biblioteca de maneira algo atrabiliária. O inverno convida à introspecção e de certa forma a solidão, na sua forma real, é sempre excelente conselheira. Ouvimos lá fora a chuva a cair tempestuosamente e aninhamo-nos no sofá com o livro preferido... ou o livro descoberto ao acaso.
Eu sou um admirador de Ursula Le Guin, proeminente e prolífera escritora de ficção, com vários trabalhos traduzidos para português - menos que aqueles que eu gostaria, mas em Portugal não se lê e portanto a tradução é um trabalho baldado ao fracasso financeiro. Aliás, toda a cultura em geral tem sido. Não se consegue motivar as pessoas para olharem outras mentes, vermos ideias diferentes. Adoptámos a solução (trágica) de importar a produção americana de cultura em lata para inventar "self made men", e podemos contemplar actualmente o panorama do planeta com essa gente criada dos Neocons e 3ªs vias. Esta nova ideia Keynesiana de que um país aberto a uma moeda generalizada na comunidade europeia poderia funcionar como conceito de contenção é um disparate total. A escola de Keynes referia-se a um país fechado com moeda própria e não é aplicável - em princípio - a uma comunidade que nem é confederada e onde toda a gente dispara para todos os lados cada vez que há uma crise. Pelos vistos Marx também já não é útil nem aplicável. A ver, a actual Rússia mais ou menos governada pela Mafia e os desagravos que criaram aos seus vizinhos, que eram concidadãos, do grande império, e que actualmente os odeiam.
A espectativa criada pelo capitalismo selvagem, de que tanto fomos avisados, como diriam os britânicos "the doom is upon us". Trata-se de saber actualmente como nos livrar dos selvagens!
Eu sempre tive a ideia peregrina de que os Neanderthal tinham sobrevivido e se tornaram banqueiros no nosso mundo. O homo-sapiens-sapiens vai tentando lidar com eles ... mas eles subsistem. Espécie resiliente.
Mas, voltando a Ursula Le Guin e ao seu trabalho ficcional sobre a magia ancestral. Especificamente sobre um tetralogia chamada de "Tales from Earthsea" - que creio foi traduzido em português por Feiticeiro de Terramar.
Nesse específico romance - que é longuíssimo, ocupa 4 livros que eu li - a característica básica de todo o romance é "qual e interpretação do bem e do mal".
Eu, tenho uma visão global como os Taoistas. O bem e o mal são complementares porque eles mesmos provocam o avanço - ou melhor, criam o movimento.
A posição de Le Guin é porém diferente. Acredita que forças subjacentes ao antigo dominio do mundo ainda são constantes. Quando falo em antigas forças, falo em questões de Natureza. As forças naturais que tanto ignoramos e que pensamos dominar.
Por falar nisso, é um objecto recorrente da EDGE.org - absolutamente actual e formada pelos nossos maiores cientistas e pensadores do mundo.
Voltando ainda a Le Guin e á sua interpretação "fantástica" do mundo.
O objecto da sua questão não é vencer o Bem e o Mal. Antes pelo contrário. Durante toda a saga a importância maior é conciliar duas coisas inconciliáveis aparentemente. O Poder frio da Pedra com a lucidez do espirito humano.
Christya Sylf faz a mesma abordagem - de forma absolutamente genial - em Kobor Tigan't. Parece que é um tema recorrente no feminino. Mas porquê?
Nestas alturas penso sempre na impulsividade e segurança de Natália Correia e na delicadeza e elegância de Sophia de Mello Breyner. As nossas grandes poetisas.
Bem, eu penso que em primeiro lugar o bem e o mal não se trata de uma guerra. E as mulheres entendem isso melhor que os homens. Por isso foram tão maltratadas por culturas machistas como o catolicismo e o islamismo.
Ursula Le Guin tenta explicar de uma maneira extraordinariamente lúcida o que é o Poder. Como ele se determina e é concedido. O acesso às chaves. E as chaves que não podem abrir portas porque não as há para abrir.
Um dos conceitos Zen é esse. A chave sem fechadura. Que significa o Poder sem acesso.
Em filosofia Zen só se pode encontrar a porta cuja chave possuimos quando deixarmos de ter a intenção de a encontrar. O que se pode tornar imensamente contraproducente. Mas é assim.
Porque quando perdermos o intuito de encontrar a porta, nem sequer necessitaremos da chave para abri-la.
As coisas são simples. A gente às vezes é que as complicamos demais.
Eu sou um admirador de Ursula Le Guin, proeminente e prolífera escritora de ficção, com vários trabalhos traduzidos para português - menos que aqueles que eu gostaria, mas em Portugal não se lê e portanto a tradução é um trabalho baldado ao fracasso financeiro. Aliás, toda a cultura em geral tem sido. Não se consegue motivar as pessoas para olharem outras mentes, vermos ideias diferentes. Adoptámos a solução (trágica) de importar a produção americana de cultura em lata para inventar "self made men", e podemos contemplar actualmente o panorama do planeta com essa gente criada dos Neocons e 3ªs vias. Esta nova ideia Keynesiana de que um país aberto a uma moeda generalizada na comunidade europeia poderia funcionar como conceito de contenção é um disparate total. A escola de Keynes referia-se a um país fechado com moeda própria e não é aplicável - em princípio - a uma comunidade que nem é confederada e onde toda a gente dispara para todos os lados cada vez que há uma crise. Pelos vistos Marx também já não é útil nem aplicável. A ver, a actual Rússia mais ou menos governada pela Mafia e os desagravos que criaram aos seus vizinhos, que eram concidadãos, do grande império, e que actualmente os odeiam.
A espectativa criada pelo capitalismo selvagem, de que tanto fomos avisados, como diriam os britânicos "the doom is upon us". Trata-se de saber actualmente como nos livrar dos selvagens!
Eu sempre tive a ideia peregrina de que os Neanderthal tinham sobrevivido e se tornaram banqueiros no nosso mundo. O homo-sapiens-sapiens vai tentando lidar com eles ... mas eles subsistem. Espécie resiliente.
Mas, voltando a Ursula Le Guin e ao seu trabalho ficcional sobre a magia ancestral. Especificamente sobre um tetralogia chamada de "Tales from Earthsea" - que creio foi traduzido em português por Feiticeiro de Terramar.
Nesse específico romance - que é longuíssimo, ocupa 4 livros que eu li - a característica básica de todo o romance é "qual e interpretação do bem e do mal".
Eu, tenho uma visão global como os Taoistas. O bem e o mal são complementares porque eles mesmos provocam o avanço - ou melhor, criam o movimento.
A posição de Le Guin é porém diferente. Acredita que forças subjacentes ao antigo dominio do mundo ainda são constantes. Quando falo em antigas forças, falo em questões de Natureza. As forças naturais que tanto ignoramos e que pensamos dominar.
Por falar nisso, é um objecto recorrente da EDGE.org - absolutamente actual e formada pelos nossos maiores cientistas e pensadores do mundo.
Voltando ainda a Le Guin e á sua interpretação "fantástica" do mundo.
O objecto da sua questão não é vencer o Bem e o Mal. Antes pelo contrário. Durante toda a saga a importância maior é conciliar duas coisas inconciliáveis aparentemente. O Poder frio da Pedra com a lucidez do espirito humano.
Christya Sylf faz a mesma abordagem - de forma absolutamente genial - em Kobor Tigan't. Parece que é um tema recorrente no feminino. Mas porquê?
Nestas alturas penso sempre na impulsividade e segurança de Natália Correia e na delicadeza e elegância de Sophia de Mello Breyner. As nossas grandes poetisas.
Bem, eu penso que em primeiro lugar o bem e o mal não se trata de uma guerra. E as mulheres entendem isso melhor que os homens. Por isso foram tão maltratadas por culturas machistas como o catolicismo e o islamismo.
Ursula Le Guin tenta explicar de uma maneira extraordinariamente lúcida o que é o Poder. Como ele se determina e é concedido. O acesso às chaves. E as chaves que não podem abrir portas porque não as há para abrir.
Um dos conceitos Zen é esse. A chave sem fechadura. Que significa o Poder sem acesso.
Em filosofia Zen só se pode encontrar a porta cuja chave possuimos quando deixarmos de ter a intenção de a encontrar. O que se pode tornar imensamente contraproducente. Mas é assim.
Porque quando perdermos o intuito de encontrar a porta, nem sequer necessitaremos da chave para abri-la.
As coisas são simples. A gente às vezes é que as complicamos demais.