sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

How to construct drama

Rimsky-Korsakov foi a figura principal do nacionalismo russo. Tal como Tchaikovsky o foi no classicismo ocidental. Integralmente russos, no matter what.
O pai de Rimsky-Korsakoff era da pequena nobreza russa, Governador da Volinia - algo que nós nem sabemos aqui no Ocidente onde é. O Czar era Alexandre I, na altura.
A história é interessante. Por tradição os Rimsky-Korsakov eram marinheiros e Nicolai foi enviado para a Academia Naval, onde o irmão-velho já era capitão.
Filho de boas famílias, a aprendizagem de piano era mais ou menos obrigatória. Era considerável útil nos salões porque os frequentaría e teria que desempenhar algo disso, como sua função social.
Mas, espanto!... Nicolai apaixonou-se pelo piano! Deixou de ser uma função social.
Beethoven e Mendelssohn vieram em seguida como seu deslumbramento, e depois Liszt e Wagner. Foi a total precipitação para o abismo do amor pela música. Foi um acto de paixão. Dizia ele «Aos dezasseis anos, eu era um rapaz que amava apaixonadamente a música, brincando com ela. Entre o meu trabalho de amador e o estudo sério de um jovem músico, aluno do conservatório, havia a mesma diferença que há entre os soldadinhos de chumbo de uma criança e a guerra verdadeira. Não houve quem me guiasse. Seria tão mais fácil se alguém mo tivesse dito.»
Tchaikovsky que se presume ter sido envenado por ser amante de um membro masculino da família real do Czar, tem o mesmo problema dramático da literatura russa. Suicidou-se?... Mataram-no? Os russos são muito à la Agatha Christie... evenenam!
É horrendo. Faz-me lembrar os Medici, cuja princesa, Catarina, possuía um anel com veneno incluído que se abria num gesto para depositar na bebida de alguém - e do Papa seu parente que tinha filhos de todas as cores.
Sem falar da história dramática de «Lorenzaccio» de Alfred de Musset, que eu traduzi para o Teatro do Mar, em que se contava que o filho do Papa, tinha saído preto, e foi Duque de Florença.
Toda a narrativa histórica é vastamente dramática e não escapa muito aos temas russos de "Guerra e Paz" ou dos "Irmãos Karamasov".
É curioso como se pode entertecer a alma russa com a alma latina. Ambas vivem do GRANDE DRAMA.
Se seguirmos o percurso musical de Rimsky-Korsakov e a sua «Sheherazade», sobretudo no tema "the young prince and the young princess" - brilhante construção orquestral, não inferior a Mahler ou Wagner.
Borodine fez igual "Nas Estepes da àsia Central" - é absolutamente brilhante. Contudo o seu trabalho mais visitado são "Danças Polovetsianas"... eu até gosto. Mas aqui estamos falando de orquestrações soberbas!
Como se constrói o drama? O emergente e a situação irreparável?
O irreparável é aquilo a que não podemos ocorrer nem acudir. Ou estamos ocupados nos telemóveis ou fomos ao WC.
A frase anterior significa uma futilidade, mas entrega a toda a gente uma ideia perfeitamente consensual de quão frágil é a nossa convivência banal.
Aquilo que Rimsky-Korsakov escreveu nos seus textos musicais asolutamente brilhantes, traduzia-se mesmo sem ser latino, por um drama que afinal não pertence só a nós.
O livro mais brilhante que li sobre esse tema foi "Guerra e Paz".... durante umas férias de 3 meses - na altura. É uma história para ler em fins de verão e longas noites solitárias em bares de praia onde está toda a gente bebeda. Lê-se muito bem nesses locais onde a confiança é traída. Aliás, é o tema básico do livro.
Bom... perdi-me... mas conduzi-os até aqui no texto.
É ASSIM QUE SE CONSTRÓI DRAMA EM LITERATURA.