sexta-feira, 27 de março de 2009

O TEMPO... ESSE GRANDE TRAIDOR

Quando passamos aquela idade em que o plano para o Reveillon se constitui apenas nas toneladas de comidas que podemos ingerir e os hectolitros de álcool que somos capazes de processar numa só noite, tudo se resume à insignificância nostálgica e meditabunda da «passagem do tempo».
Os grandes escritores - todos eles - estiveram sempre fascinados pelo assunto. Marguerite Yourcenar, que falava do "tempo cristalizado na brancura mineral das estátuas" (O Tempo Esse Grande Escultor), Gabriel Garcia Marquez, no seu fabuloso romance «100 Anos de Solidão», ou «O Mar do Tempo Perdido» e tanto assim, Marcel Proust, no seu interminável romance, de não sei quantos milhares de páginas «Em Busca do Tempo Perdido». Acho que nem os académicos leram todos os tomos daquela Obra de uma dimensão inacreditável. Eu não consegui. Parei ao 5º livro e depois fiz leitura transversal dos outros 3.
Mesmo cientistas famosos se debruçaram sobre o tema. John Gribbin, o Filosofo e Astrofísico de Cambridge, Redactor da «Nature», que actualmente faz estudos sobre alterações climatéricas e o abastecimento alimentar mundial, na Univ. de Sussex.
O que é o TEMPO afinal? Pode parecer uma questão absurda, porque é o conceito mais fundamental e mais enganador da sociedade dos nossos dias. As nossas vidas são regidas pela passagem do tempo, assinaladas nos relógios, cronómetros, calendários.
Mas o Tempo é uma variável de difícil interpretação, porque ele próprio se distorce na nossa mente.
Quem não sentiu já a diferença entre 5 minutos de prazer ou 5 minutos de pânico!
Nessas circunstâncias a passagem do tempo torna-se flexível, e corre célere quando experimentamos o prazer, como um riacho feliz, num saltitat de pedra em pedra, de cachoeira em cachoeira, falando às ervas e ás árvores num caminho eufórico deslumbrado de luz.
Na miséria da tristeza ele espande-se, qual pântano rancoroso que invade insidiosamente os locais mais recônditos do ser, num sofrimentos cujos segundos são horas, e as horas se eternizam.
Quando acordamos de ambos destes estados hipnóticos da mente - como diriam os mais práticos - quando caímos na realidade comum, a verdade tangível, nada parece ter tido qualquer importância. Na verdade não existe ... a Realidade é apenas a percepção mental de um momento.
As ideias, os estados mentais, os sentimentos, são como fogueiras a arder. Enquanto ardem, se lhes dermos combustível, ardem cada vez mais! Se lhes retirarmos a atenção... apagam-se!
O TEMPO é a ATENÇÃO que permitimos ao espirito de se FOCAR num determinado tempo e espaço. Porque, no fundo, o tempo não existe. Nós usamo-lo, estendendo-o ou encolhendo-o de acordo da subjectividade da nossa percepção e a dependência das nossas emoções.
Quando Carlos Castaneda, o antropólogo da Uni. da Califórnia encetou os seus estudos sobre práticas mágicas entre os Xamãs mexicanos, descobriu uma cosmogonia absolutamente fascinante. Como cientista, tentou levar todas as entrevistas segundo os preceitos académicos, do ponto de vista do observador imparcial, mas acabou inexoravelmente no experimentador/experimentado - algo quantico - onde quem observa a experiência a altera pela observação.
O «xamã» mexicano tentou explicar-lhe que o tempo não se movia do ponto A para o ponto B, porque o tempo era um fenómeno interior, uma tomada de consciência. Quem pudesse excluir essa percepção de «movimento» que determina o fluxo temporal, poderia de forma prodigiosa «suspender o tempo».
Harry Harrison, no seu brilhante livro «The Legion Of Time», esclarece-nos o conceito do "rio do tempo", como se fosse uma árvore em permanente ramificação, com inúmeros futuros possiveis.
Se cada decisão que tomamos afectam o nosso futuro, então deverá haver um número infinito de futuros. No conceito do «Rio do Tempo» o futuro é imutável. Se e no caminho para o trabalho decidirmos apanhar o autocarro em vez do metropolitano e morrermos num acidente rodoviário, a morte estava predestinada. Mas se o futuro for como uma árvore em constante ramificação, teremos vários futuros, um no qual morremos e o outro em que continuamos a viver porque preferimos o metro.
Mas quando pulverizamos o Tempo com os nossos sentimentos e as nossas emoções, não há nada a fazer, porque não temos a noção que ele existe. São apenas sensações cuja intensidade se diversifica e o faz alargar ou encolher.
O Tempo é um grande traidor........... ou será que somos nós que nos traímos a nós mesmo?